O telefone no meu bolso vibrou de novo. Era a vigésima quinta vez em vinte e quatro horas. Eu pensei em abrir o telefone, pelo menos pra ver quem estava tentando entrar em contato comigo. Talvez fosse importante. Talvez Carlisle precisasse de mim.
Eu pensei nisso, mas eu não me movi.
Eu não estava precisamente certo de onde eu estava. Algum sótão onde eu só podia me arrastar, cheio de ratos e baratas. As aranhas me ignoraram, e os ratos me deram bastante espaço. O ar estava pesado com os cheiros fortes de óleo de cozinha, carne rançosa, suor humano, e a camada praticamente sólida de poluição que na verdade era visível no ar húmido, como se fosse uma camada preta por cima de tudo.
Abaixo de mim, quatro andares de uma habitação raquítica do gueto estavam atreladas de vida. Eu não me importei em separar os pensamentos das vozes – elas faziam um grande barulho, alto em Espanhol que eu não escutava. Eu só deixei os sons saltarem por cima de mim. Inexpressívo. Tudo isso era inexpressívo. Minha própria existência era inexpressiva.
O mundo inteiro era inexpressivo.
Minha testa estava pressionada nos meus joelhos, e eu me perguntei quanto tempo mais eu seria capaz de aguentar tudo isso. Talvez isso tudo fosse desesperançado.
Talvez, se a minha tentativa já estava mesmo predestinada ao fracasso, eu devia parar de me torturar e simplesmente voltar…
A ideia era poderosa, tão curativa – como se as palavras contivessem um forte anestésico, levando embora a montanha de dor na qual eu estava enterrado – que me deixou ofegante, me fez ficar tonto.
Eu podia ir embora agora, eu podia voltar.
O rosto de Bella, sempre atrás das minhas pálpebras, sorriu pra mim.
Era um sorriso de boas vindas, de perdão, mas ele não teve o efeito que o meu subconsciente provavelmente esperava que ele tivesse.
É claro que eu não podia voltar. O que era a minha dor, afinal, em comparação com a felicidade dela? Ela devia ser capaz de sorrir, livre do medo e do perigo. Livre de esperar por um futuro sem alma.
Ela merecia mais que isso. Ela merecia mais que eu. Quando ela deixasse esse mundo, ela deveria ir para um lugar melhor que foi pra sempre trancado pra mim, não importava o quanto eu me comportasse bem aqui.
A ideia da separação final era muito mais intensa do que a dor que eu já sentia. Meu corpo tremeu com ela. Quando Bella fosse para o lugar onde ela pertencia eu eu nunca poderia ir, eu não ficaria pra trás aqui. Deve haver o esquecimento. Deve haver o alívio.
Essa era a minha esperança, mas não haviam garantias. Dormir, por acaso sonhar.
Sim, há a dor, eu citei para mim mesmo. Quando eu virasse cinzas, será que mesmo assim de alguma forma eu ainda sentiria a tortura da perda dela?
Eu estremeci de novo.
E, maldição, eu havia prometido. Eu havia prometido a ela que nunca mais assombraria a sua vida, trazendo os meus demônios negros pra dentro dela. E eu não ia dar pra trás com a minha palavra. Será que eu não podia fazer nada de correto por ela? Absolutamente nada?
A ideia de voltar para a cidadezinha nublada que sempre foi o meu verdadeiro lar nesse planeta serpenteou os meus pensamentos de novo.
Só pra checar. Só pra ver de ela está bem e a salvo e feliz. Não pra interferir. Ela nunca saberia que eu estava lá…
Não. Droga, não.
O telefone vibrou de novo.
“Maldição, maldição, maldição”, eu rosnei.
Eu podia usar isso como distração, eu pensei. Eu abri o telefone e olhei o número que estava registrado e senti o primeiro choque que havia sentido em meio ano.
Porque Rosalie estaria ligando pra mim? Ela provavelmente era a única pessoa que estava aproveitando a minha ausência.
Devia estar acontecendo alguma coisa realmente errada se ela estava precisando falar comigo. Repentinamente preocupado com a minha família, eu apertei o botão pra atender.
“O que?”, eu perguntei tensamente.
“Oh, uau. Edward atendeu o telefone. Eu me sinto tão honrada”.
Assim que eu ouvi o tom dela, eu soube que minha família estava bem. Ela devia estar só entediada.
Era difícil saber as motivações dela sem ter os seus pensamentos como guia. Rosalie nunca fez muito sentido pra mim. Os impulsos dela geralmente eram baseados nas lógicas mais enroladas.
Eu fechei o telefone.
“Me deixe em paz”, eu sussurrei pra ninguém.
É claro que o telefone vibrou de novo.
Será que ela continuaria ligando até ter passado qualquer que fosse a mensagem que ela estava planejando pra me chatear?
Provavelmente. Iam demorar meses até que ela se cansasse desse joguinho. Eu brinquei com a ideia de deixar ela apertar o botão de rediscagem pelo próximo anos inteiro… e depois eu suspirei e atendi o telefone de novo.
“Acaba logo com isso”.
Rosalie se apressou nas palavras. “Eu pensei que você ia gostar de saber que Alice está em Forks”.
Eu abri os meus olhos e encarei as vigas de madeira corrida que ficavam a três centímetros do meu rosto.
“O que?”, minha voz estava vazia, sem emoção.
“Você sabe como Alice é – ela acha que sabe tudo. Como você.” Rosalie gargalhou sem humor. A voz dela tinha uma pontada de nervosismo, como se ela de repente estivesse insegura sobre o que estava fazendo.
Mas a minha raiva não deixou eu me importar em saber qual era o problema de Rosalie.
Alice havia jurado que seguiria as minhas instruções em consideração á Bella, apesar dela não concordar com a minha decisão. Ela prometeu que deixaria Bella em paz… enquanto eu deixasse. Claramente ela achava que um dia eu ia me render á dor. Talvez ela estivesse certa em relação á isso.
Mas eu não havia. Ainda. Então o que ela estava fazendo em Forks? Eu queria torcer o pescoço magrelo dela. Não que Jasper fosse me deixar chegar assim tão perto dela, quando ele sentisse o poder da fúria em mim…
“Você ainda está aí, Edward?”
Eu não respondi. Eu apertei o osso do meu nariz com as pontas dos meus dedos, me perguntando de um vampiro podia tomar remédio pra dor de cabeça.
Por outro lado, se Alice já havia voltado…
Não. Não. Não. Não.
Eu havia feito uma promessa. Bella merecia uma vida. Eu havia feito uma promessa. Bella merecia uma vida.
Eu repeti as palavras como se fossem uma reza, tentando limpar da minha cabeça a imagem sedutora da janela escura de Bella. A porta de entrada para o meu único santuário.
Sem dúvida eu teria que rastejar, quando eu voltasse. Eu não me importava com isso.
Eu podia passar a próxima década de joelhos e feliz se eu estivesse com ela.
Não. Não. Não.
“Edward? Você nem se importa com o porque de Alice estar lá?”
“Não particularmente”.
A voz de Rosalie se tornou um pouco presumida agora, agradada, sem dúvida, por haver me forçado a responder. “Bem, é claro que ela não está exatamente quebrando as regras. Quer dizer, você só nos avisou pra que ficássemos longe de Bella, certo? O resto de Forks não importa”.
Eu pisquei meus olhos lentamente. Bella tinha ido embora? Meus pensamentos circularam ao redor dessa ideia inesperada. Ela ainda não havia se formado, então ela devia ter voltado para a mãe. Isso era bom. Ela deveria viver no sol. Era bom que ela tivesse sido capaz de colocar as sombras pra trás dela.
Eu tentei engolir, e não consegui.
Rosalie soltou uma risada nervosa. “Então você não precisa ficar com raiva de Alice”.
“Então pra que foi que você me ligou, Rosalie, se não foi pra envolver Alice em problemas? Porque é que você está me incomodando? Ugh!”
“Espere!”, ela disse, pressentindo, com razão, que eu ia desligar o telefone de novo.
“Não foi por isso que eu liguei”.
“Então porque? Me diga rápido, e depois me deixe em paz”.
“Bem”, ela hesitou.
“Bota pra fora, Rosalie. Você tem dez segundos”.
“Eu acho que você devia voltar pra casa”, Rosalie disse com pressa. “Eu estou cansada desse pesar de Esme e de Carlisle que não sorri nunca. Você devia se envergonhar muito do que fez com eles. Emmett sente a sua falta o tempo todo e isso já está me deixando nervosa. Você tem uma família. Vê se cresce e pensa em alguém além de sí mesmo”.
“Conselho interessante, Rosalie. Me deixe te contar uma historinha sobre um espelho…”
“Eu estou pensando neles, diferente de você. Será que você não se importa nem um pouquinho com o que está fazendo com Esme, se não com os outros? Ela ama mais você do que o resto de nós, você sabe disso. Venha pra casa”.
Eu não respondi.
“Eu pensei que quando essa coisa de Forks estivesse resolvida, você ia superar tudo”.
“Forks nunca foi o problema, Rosalie”, eu disse, tentando ser paciente. O que ela disse sobre Carlisle e Esme tinha atingido uma veia. “Só porque Bella” – era difícil dizer o nome dela em voz alta – “se mudou para a Flórida, isso não significa que eu sou capaz de… Olha, Rosalie. Eu realmente lamento muito, mas, confie em mim, eu não faria ninguém mais feliz se eu estivesse aí”.
“Umm”
Lá estava, a hesitação nervosa de novo.
“O que é que você não está me contando, Rosalie. Esme está bem? Carlisle está -”
“Eles estão bem. É só que… bem, eu não disse que Bella havia se mudado”.
Eu não falei. Eu repassei a conversa na minha cabeça. Sim, Rosalie havia dito que Bella tinha se mudado. Ela tinha dito:… Você só tinha nos avisado pra ficar longe de Bella, certo. O resto de Forks não importa. E depois:Eu pensei que quando essa coisa de Forks estivesse resolvida… Então Bella não estava em Forks. O que ela queria dizer com, Bella não havia se mudado?
Então Rosalie se apressou nas palavras de novo, as dizendo quase com raiva dessa vez.
“Eles não quiseram te dizer, mas eu acho isso estúpido. Quanto mais rápido você superar isso, mais cedo as coisas vão voltar ao normal. Pra que deixar você feito um palerma nos esquinas escuras do mundo quando não existe necessidade pra isso?
Você pode voltar pra casa agora. Nós podemos ser uma família de novo. Está acabado”.
Minha mente parecia estar se quebrando. Eu não conseguia entender o sentido das palavras dela. Era como se houvesse alguma coisa muito, muito óbvia que ela estava me dizendo, mas eu não tinha ideia do que era.
Meu cérebro brincou com a informação, fazendo estranhos padrões com ela. Sem sentido.
“Edward?”
“Eu não entendo o que você está tentando me dizer, Rosalie”.
Uma longa pausa, a duração de algumas batidas de coração humano.
“Ela está morta Edward”.
Uma pausa mais longa.
“Eu… lamento. Porém, você tinha o direito de saber, eu acho. Bella… se jogou de um penhasco há dois dias atrás. Alice viu, mas era tarde demais pra fazer alguma coisa. Mas eu acho que ela teria ajudado, quebrado a palavra dela, se houvesse tido tempo.
Ela voltou pra fazer o que podia por Charlie. Você sabe como ela sempre se importou por ele -”
O telefone ficou mudo. Eu levei alguns segundos pra perceber que havia desligado o telefone.
Eu me sentei na escuridão poeirenta com um tempo longo, congelado. Era como se o tempo tivesse acabado. Como se o universo tivesse parado.
Lentamente, me movendo como um homem velho, eu liguei o telefone de novo e liguei para o único número que eu prometi a mim mesmo que nunca ligaria de novo.
Se ela atendesse, eu ia desligar. Se fosse Charlie, eu ia pegar a informação que precisava por algum subterfúgio. Eu ia provar que a piadinha doentia de Rosalie estava errada, e depois ia voltar para o meu vazio.
“Residência dos Swan”, atendeu uma voz que eu nunca tinha ouvido antes. Uma voz de homem rouca, profunda, mas ainda jovem.
Eu não parei pra pensar nas implicações disso.
“Aqui é o Dr. Carlisle Cullen”, eu disse, imitando perfeitamente a voz de meu pai. “Será que eu poderia por favor falar com Charlie?”
“Ele não está aqui”, a voz disse, e eu fiquei levemente surpreso pela raiva contida nela. As palavras foram quase um rugido. Mas isso não importava.
“Bem, onde ele está então?”, eu quis saber, ficando impaciente.
Houve uma curta pausa, como se o estranho estivesse tentando esconder a informação de mim.
“Ele está no funeral”, o garoto finalmente respondeu.
Eu desliguei o telefone de novo.
Eu pensei nisso, mas eu não me movi.
Eu não estava precisamente certo de onde eu estava. Algum sótão onde eu só podia me arrastar, cheio de ratos e baratas. As aranhas me ignoraram, e os ratos me deram bastante espaço. O ar estava pesado com os cheiros fortes de óleo de cozinha, carne rançosa, suor humano, e a camada praticamente sólida de poluição que na verdade era visível no ar húmido, como se fosse uma camada preta por cima de tudo.
Abaixo de mim, quatro andares de uma habitação raquítica do gueto estavam atreladas de vida. Eu não me importei em separar os pensamentos das vozes – elas faziam um grande barulho, alto em Espanhol que eu não escutava. Eu só deixei os sons saltarem por cima de mim. Inexpressívo. Tudo isso era inexpressívo. Minha própria existência era inexpressiva.
O mundo inteiro era inexpressivo.
Minha testa estava pressionada nos meus joelhos, e eu me perguntei quanto tempo mais eu seria capaz de aguentar tudo isso. Talvez isso tudo fosse desesperançado.
Talvez, se a minha tentativa já estava mesmo predestinada ao fracasso, eu devia parar de me torturar e simplesmente voltar…
A ideia era poderosa, tão curativa – como se as palavras contivessem um forte anestésico, levando embora a montanha de dor na qual eu estava enterrado – que me deixou ofegante, me fez ficar tonto.
Eu podia ir embora agora, eu podia voltar.
O rosto de Bella, sempre atrás das minhas pálpebras, sorriu pra mim.
Era um sorriso de boas vindas, de perdão, mas ele não teve o efeito que o meu subconsciente provavelmente esperava que ele tivesse.
É claro que eu não podia voltar. O que era a minha dor, afinal, em comparação com a felicidade dela? Ela devia ser capaz de sorrir, livre do medo e do perigo. Livre de esperar por um futuro sem alma.
Ela merecia mais que isso. Ela merecia mais que eu. Quando ela deixasse esse mundo, ela deveria ir para um lugar melhor que foi pra sempre trancado pra mim, não importava o quanto eu me comportasse bem aqui.
A ideia da separação final era muito mais intensa do que a dor que eu já sentia. Meu corpo tremeu com ela. Quando Bella fosse para o lugar onde ela pertencia eu eu nunca poderia ir, eu não ficaria pra trás aqui. Deve haver o esquecimento. Deve haver o alívio.
Essa era a minha esperança, mas não haviam garantias. Dormir, por acaso sonhar.
Sim, há a dor, eu citei para mim mesmo. Quando eu virasse cinzas, será que mesmo assim de alguma forma eu ainda sentiria a tortura da perda dela?
Eu estremeci de novo.
E, maldição, eu havia prometido. Eu havia prometido a ela que nunca mais assombraria a sua vida, trazendo os meus demônios negros pra dentro dela. E eu não ia dar pra trás com a minha palavra. Será que eu não podia fazer nada de correto por ela? Absolutamente nada?
A ideia de voltar para a cidadezinha nublada que sempre foi o meu verdadeiro lar nesse planeta serpenteou os meus pensamentos de novo.
Só pra checar. Só pra ver de ela está bem e a salvo e feliz. Não pra interferir. Ela nunca saberia que eu estava lá…
Não. Droga, não.
O telefone vibrou de novo.
“Maldição, maldição, maldição”, eu rosnei.
Eu podia usar isso como distração, eu pensei. Eu abri o telefone e olhei o número que estava registrado e senti o primeiro choque que havia sentido em meio ano.
Porque Rosalie estaria ligando pra mim? Ela provavelmente era a única pessoa que estava aproveitando a minha ausência.
Devia estar acontecendo alguma coisa realmente errada se ela estava precisando falar comigo. Repentinamente preocupado com a minha família, eu apertei o botão pra atender.
“O que?”, eu perguntei tensamente.
“Oh, uau. Edward atendeu o telefone. Eu me sinto tão honrada”.
Assim que eu ouvi o tom dela, eu soube que minha família estava bem. Ela devia estar só entediada.
Era difícil saber as motivações dela sem ter os seus pensamentos como guia. Rosalie nunca fez muito sentido pra mim. Os impulsos dela geralmente eram baseados nas lógicas mais enroladas.
Eu fechei o telefone.
“Me deixe em paz”, eu sussurrei pra ninguém.
É claro que o telefone vibrou de novo.
Será que ela continuaria ligando até ter passado qualquer que fosse a mensagem que ela estava planejando pra me chatear?
Provavelmente. Iam demorar meses até que ela se cansasse desse joguinho. Eu brinquei com a ideia de deixar ela apertar o botão de rediscagem pelo próximo anos inteiro… e depois eu suspirei e atendi o telefone de novo.
“Acaba logo com isso”.
Rosalie se apressou nas palavras. “Eu pensei que você ia gostar de saber que Alice está em Forks”.
Eu abri os meus olhos e encarei as vigas de madeira corrida que ficavam a três centímetros do meu rosto.
“O que?”, minha voz estava vazia, sem emoção.
“Você sabe como Alice é – ela acha que sabe tudo. Como você.” Rosalie gargalhou sem humor. A voz dela tinha uma pontada de nervosismo, como se ela de repente estivesse insegura sobre o que estava fazendo.
Mas a minha raiva não deixou eu me importar em saber qual era o problema de Rosalie.
Alice havia jurado que seguiria as minhas instruções em consideração á Bella, apesar dela não concordar com a minha decisão. Ela prometeu que deixaria Bella em paz… enquanto eu deixasse. Claramente ela achava que um dia eu ia me render á dor. Talvez ela estivesse certa em relação á isso.
Mas eu não havia. Ainda. Então o que ela estava fazendo em Forks? Eu queria torcer o pescoço magrelo dela. Não que Jasper fosse me deixar chegar assim tão perto dela, quando ele sentisse o poder da fúria em mim…
“Você ainda está aí, Edward?”
Eu não respondi. Eu apertei o osso do meu nariz com as pontas dos meus dedos, me perguntando de um vampiro podia tomar remédio pra dor de cabeça.
Por outro lado, se Alice já havia voltado…
Não. Não. Não. Não.
Eu havia feito uma promessa. Bella merecia uma vida. Eu havia feito uma promessa. Bella merecia uma vida.
Eu repeti as palavras como se fossem uma reza, tentando limpar da minha cabeça a imagem sedutora da janela escura de Bella. A porta de entrada para o meu único santuário.
Sem dúvida eu teria que rastejar, quando eu voltasse. Eu não me importava com isso.
Eu podia passar a próxima década de joelhos e feliz se eu estivesse com ela.
Não. Não. Não.
“Edward? Você nem se importa com o porque de Alice estar lá?”
“Não particularmente”.
A voz de Rosalie se tornou um pouco presumida agora, agradada, sem dúvida, por haver me forçado a responder. “Bem, é claro que ela não está exatamente quebrando as regras. Quer dizer, você só nos avisou pra que ficássemos longe de Bella, certo? O resto de Forks não importa”.
Eu pisquei meus olhos lentamente. Bella tinha ido embora? Meus pensamentos circularam ao redor dessa ideia inesperada. Ela ainda não havia se formado, então ela devia ter voltado para a mãe. Isso era bom. Ela deveria viver no sol. Era bom que ela tivesse sido capaz de colocar as sombras pra trás dela.
Eu tentei engolir, e não consegui.
Rosalie soltou uma risada nervosa. “Então você não precisa ficar com raiva de Alice”.
“Então pra que foi que você me ligou, Rosalie, se não foi pra envolver Alice em problemas? Porque é que você está me incomodando? Ugh!”
“Espere!”, ela disse, pressentindo, com razão, que eu ia desligar o telefone de novo.
“Não foi por isso que eu liguei”.
“Então porque? Me diga rápido, e depois me deixe em paz”.
“Bem”, ela hesitou.
“Bota pra fora, Rosalie. Você tem dez segundos”.
“Eu acho que você devia voltar pra casa”, Rosalie disse com pressa. “Eu estou cansada desse pesar de Esme e de Carlisle que não sorri nunca. Você devia se envergonhar muito do que fez com eles. Emmett sente a sua falta o tempo todo e isso já está me deixando nervosa. Você tem uma família. Vê se cresce e pensa em alguém além de sí mesmo”.
“Conselho interessante, Rosalie. Me deixe te contar uma historinha sobre um espelho…”
“Eu estou pensando neles, diferente de você. Será que você não se importa nem um pouquinho com o que está fazendo com Esme, se não com os outros? Ela ama mais você do que o resto de nós, você sabe disso. Venha pra casa”.
Eu não respondi.
“Eu pensei que quando essa coisa de Forks estivesse resolvida, você ia superar tudo”.
“Forks nunca foi o problema, Rosalie”, eu disse, tentando ser paciente. O que ela disse sobre Carlisle e Esme tinha atingido uma veia. “Só porque Bella” – era difícil dizer o nome dela em voz alta – “se mudou para a Flórida, isso não significa que eu sou capaz de… Olha, Rosalie. Eu realmente lamento muito, mas, confie em mim, eu não faria ninguém mais feliz se eu estivesse aí”.
“Umm”
Lá estava, a hesitação nervosa de novo.
“O que é que você não está me contando, Rosalie. Esme está bem? Carlisle está -”
“Eles estão bem. É só que… bem, eu não disse que Bella havia se mudado”.
Eu não falei. Eu repassei a conversa na minha cabeça. Sim, Rosalie havia dito que Bella tinha se mudado. Ela tinha dito:… Você só tinha nos avisado pra ficar longe de Bella, certo. O resto de Forks não importa. E depois:Eu pensei que quando essa coisa de Forks estivesse resolvida… Então Bella não estava em Forks. O que ela queria dizer com, Bella não havia se mudado?
Então Rosalie se apressou nas palavras de novo, as dizendo quase com raiva dessa vez.
“Eles não quiseram te dizer, mas eu acho isso estúpido. Quanto mais rápido você superar isso, mais cedo as coisas vão voltar ao normal. Pra que deixar você feito um palerma nos esquinas escuras do mundo quando não existe necessidade pra isso?
Você pode voltar pra casa agora. Nós podemos ser uma família de novo. Está acabado”.
Minha mente parecia estar se quebrando. Eu não conseguia entender o sentido das palavras dela. Era como se houvesse alguma coisa muito, muito óbvia que ela estava me dizendo, mas eu não tinha ideia do que era.
Meu cérebro brincou com a informação, fazendo estranhos padrões com ela. Sem sentido.
“Edward?”
“Eu não entendo o que você está tentando me dizer, Rosalie”.
Uma longa pausa, a duração de algumas batidas de coração humano.
“Ela está morta Edward”.
Uma pausa mais longa.
“Eu… lamento. Porém, você tinha o direito de saber, eu acho. Bella… se jogou de um penhasco há dois dias atrás. Alice viu, mas era tarde demais pra fazer alguma coisa. Mas eu acho que ela teria ajudado, quebrado a palavra dela, se houvesse tido tempo.
Ela voltou pra fazer o que podia por Charlie. Você sabe como ela sempre se importou por ele -”
O telefone ficou mudo. Eu levei alguns segundos pra perceber que havia desligado o telefone.
Eu me sentei na escuridão poeirenta com um tempo longo, congelado. Era como se o tempo tivesse acabado. Como se o universo tivesse parado.
Lentamente, me movendo como um homem velho, eu liguei o telefone de novo e liguei para o único número que eu prometi a mim mesmo que nunca ligaria de novo.
Se ela atendesse, eu ia desligar. Se fosse Charlie, eu ia pegar a informação que precisava por algum subterfúgio. Eu ia provar que a piadinha doentia de Rosalie estava errada, e depois ia voltar para o meu vazio.
“Residência dos Swan”, atendeu uma voz que eu nunca tinha ouvido antes. Uma voz de homem rouca, profunda, mas ainda jovem.
Eu não parei pra pensar nas implicações disso.
“Aqui é o Dr. Carlisle Cullen”, eu disse, imitando perfeitamente a voz de meu pai. “Será que eu poderia por favor falar com Charlie?”
“Ele não está aqui”, a voz disse, e eu fiquei levemente surpreso pela raiva contida nela. As palavras foram quase um rugido. Mas isso não importava.
“Bem, onde ele está então?”, eu quis saber, ficando impaciente.
Houve uma curta pausa, como se o estranho estivesse tentando esconder a informação de mim.
“Ele está no funeral”, o garoto finalmente respondeu.
Eu desliguei o telefone de novo.
0 comente
Postar um comentário
Não tem conta no google ou algo do tipo?!
Não tem problema pode comenta de qualquer jeito.
PS: Caso tenha algum nome ou palavra errada no blog nos avise por favor. Afinal errar é humano.
Muito obrigada pela visita e pelo comentario. Você sem duvida é muito importante pra gente.