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Fanfic Solstício - Capitulo 4

quarta-feira, 28 de julho de 2010


Capitulo 4 - A festa... e alguns pormenores

        
Gostaria de saber o que estava acontecendo de errado comigo... Aparentemente, eu ia ter que me acostumar com a rotina dos sonhos malucos assombrando minhas noites e ditando meu comportamento durante o dia... Ah, e agora também me constrangendo publicamente! Um lembrete para mim mesmo: Quando estiver em uma semana de pesadelos constantes, não durma fora de casa... Você pode passar vergonha e dar prejuízos! Acho que já dá até pra eu escrever um manual: “O que não fazer quando se está sonhando – Por Jacob Black!”.
Como se um pesadelo só não bastasse, dessa fez foram vários. E, se no domingo eu achei que tinha passado dos limites, o que dizer sobre meu show de horrores dessa noite?! Sim, show mesmo... Porque é isso que acontece quando se passa uma noite ruim numa casa onde ninguém dorme! Ainda não havia nem recobrado totalmente a consciência, mas já podia escutar coisas do tipo “Esse cara tem problemas!”; “...naquela hora eu achei que ele ia quebrar a coluna!”; “... o melhor foi quando ele fez aquele barulhinho de...”; “Psiu, ele tá acordando! Ele tá acordando!”...
Fui abrindo meus olhos vagarosamente, tentando dar umas espiadinhas ao redor, para ter uma noção da minha platéia... Casa cheia, como eu suspeitava! O espetáculo, ao que parecia, foi um sucesso! Demorei mais alguns segundos para acordar por completo, desejando que tudo aquilo não passasse de mais um pesadelo!
Era inútil...

– Olá, princesa – Emmett às vezes me lembrava o Paul... ele fez uma voz solene – enfim despertaste do teu sono!

– Uma pena, eu admito... – Jasper deu o ar de sua graça. Alice largou um tapinha no abdômen dele, numa censura sarcástica.

Eu não tinha pra onde correr mesmo, então me sentei no sofá. Até Esme e Carlisle estavam ali, me observando corar feito um pateta. Eu queria cavar uma vala e me atirar de cabeça... Todos se divertiam com meu constrangimento.

– Sorte sua eu não te fazer pagar por esse vaso de 200 anos, que você tão delicadamente destruiu, enquanto fazia o passo do “Moon walk”, ou sei lá o que era aquilo.... – a matriarca Cullen se pronunciou, inabalada.

Olhei para o chão e vi os mil e um estilhaços do que restou de seu belo vaso egípcio. Senti um gelo no estômago. Nem se eu vendesse minha alma eu conseguiria pagar por aquilo, ou compensá-la! Sorte minha mesmo... Ainda bem que ela estava de bom humor. “Alguém me dê um tiro, por favor!”

– Relaxe, Jacob! Todo mundo tem o seu dia de “cão”! – Rosalie não perdeu a oportunidade e nenhum deles conseguiu não rir da piada!

– Você precisava ver sua cara agora... – Céus, até Bella estava envolvida – Espere, vou pegar um espelho!

E mais risadas se seguiram...

Coloquei a cara mais sombria que pude e me levantei, passando por entre todos, com destino à saída. Ela me ultrapassou em uma fração de segundos, se colocando entre mim e a porta.

– Que é isso Jacob, foi só brincadeirinha nossa. Não precisa ficar desse jeito... – ela anteviu meu abatimento

– Será que não?! Ora, Bella, tenha dó... – minha voz ficou tão fraca que mal saía. Fiquei com medo de que a minha raiva se condensasse em lágrimas no meu rosto ali na frente dela... Ia ser a cereja do bolo! – Não sei como você ainda consegue olhar pra mim...

– Que besteira Jake, não foi nada demais! – Ela me envolveu em um abraço maternal esquisito. Isso por que eu já estava com os olhos úmidos. Mais que merd... Esperei até que se afastasse, pois não seria capaz de fazer isso eu mesmo. Ela enxugou meu rosto com as pontas dos dedos gélidos e me deu um beliscão de leve na bochecha.

– Lobo bobão!

Eu estava confuso.

– Então... você não está com raiva de mim?!

Foi a vez dela ficar confusa.

– Hã?! Mas por que eu estaria com raiva de você?!

– Como assim?! Eu não...

Nesse ponto, eu comecei a suspeitar de que meu show não houvesse incluído palavras. Precisava me certificar dessa vez.

– O que “exatamente” eu fiz enquanto dormia, Bella?!

Ela não conseguiu reprimir o riso.

– Ah... Você ficou se mexendo muito. MUITO mesmo! E também fez uns barulhinhos bem cômicos! Mas foi só isso. Por que?!

“Graças a Deus!” Meu alívio foi imediato. Eu tratei logo de disfarçar:

– Não, por nada! Eu só perguntei por perguntar...

– Hum, sei... – ela me conhecia muito bem pra saber que eu estava omitindo coisas, mas resolveu não insistir {ela estava fazendo isso muito ultimamente, pra minha sorte} – Ok! Que bom que está tudo bem então, né?!

– Se você chama isso de bem... – Eu dei de ombros

Olhei de volta para a sala. O restante do clã estava rindo a valer, enquanto Emmett fazia imitações ridículas da minha performance noturna. Edward, no entanto, permanecia sério, sentado um pouco mais afastado em uma poltrona. Ele era o único ali que era capaz de ter uma visão completa dos meus terríveis delírios. Diante de opções, eu teria preferido que ele tivesse me visto na noite de domingo, ao invés dessa. Até agora eu não acreditava que tinha conseguido me manter de boca fechada. Era pouco provável que algum dia eu conseguisse reconquistar seu respeito outra vez...
O que quer que estivesse provocando aquelas alucinações em mim, tinha uma força muito intensa e exercia um controle absoluto sobre meu inconsciente. Estava se tornando perigoso para mim fechar os olhos. Essa energia emanava de uma fonte desconhecida, e estava sendo muito insistente, ao ponto de eu achar que nunca mais teria uma noite de sossego. Uma vez eu li que “quando a gente não encontra mais refúgio em nossa própria mente, precisamos nos livrar dela!”. Não sei quem foi o idiota que escreveu isso, mas eu estava começando a compreender seu ponto de vista...
Bella acabou me convencendo a voltar para a sala, me prometendo um belo café da manhã de consolação. O circo que Emmett montou às minhas custas ainda estava de pé, enquanto ele e Jasper tentavam fazer o contorcionismo que eu supostamente realizei em cima do pobre sofá. Fomos direto até a mesa de jantar {puramente decorativa naquela casa, óbvio}, onde me sentei, virado de costas para as apresentações dos dois mais novos palhaços de Forks! Depois de algum tempo eles se cansaram e vieram todos se sentar comigo – uma ocasião bastante conveniente para estrear a mesa, eu percebi... Bella, já na cozinha, estava preparando algo que começava a cheirar {Bem até...} e Esme foi fiscalizar. Mas o restante ainda parecia ter disposição para 1000 horas de interrogatórios.

– O que você estava sonhando quando deu aquela risadinha?! – Jasper estava me surpreendendo com sua falta de decoro...

– E naquela hora em que você... – Emmett foi interrompido por Bella, que educadamente exclamou lá de dentro:

– Chega gente! Ele não tem como saber do que vocês estão falando!

Era tão bom ter alguém para me defender daquele ataque vampiro...
Eles se renderam feito duas crianças mimadas. Achei graça pela primeira vez! O único a permanecer de fora foi {claro} Edward, ainda estranhamente evitando qualquer participação. Ele fingia ler um livro qualquer, mas por detrás de cada passada de folha, eu via seu olhar morto atravessar completamente o objeto em suas mãos... provavelmente, estava tentando apenas se concentrar em não me estrangular, ou avançar na minha carótida! Nesse momento, Alice tentou descontrair o ambiente novamente.

– Menos mal que tenha sido o vaso, Jake – olhei pra ela, ao escutar o meu nome – se você tivesse avariado alguma coisa da decoração, por mais insignificante que fosse, iria experimentar o gosto da minha fúria.

– uuUU! – os dois engraçadinhos fizeram eco à ameaça exagerada!

Ignorei-os. Desviei então meu olhar na direção da janela. O tempo, quem diria, estava firme, sem uma gota de chuva caindo do céu. A qualquer momento, começaríamos a receber os convidados...
Foi nesse ponto que avistei Renesmee surgindo por entre a folhagem, vinda do chalé. Estava encantadora em seu pijama de ursinhos preferido, embora suas feições fossem as de alguém que nem sequer tinha conseguido pregar o olho durante a noite. Ela caminhava impaciente, marchando sobre os galhos secos no solo em frente à casa. Desapareceu na linha que delimitava o andar de baixo e, poucos segundos depois, escutei o ranger suave da porta da frente.
Ela reapareceu na entrada da sala, ainda bocejando, e foi recepcionada pelo tradicional coro de parabéns coletivo. Emmett assobiava, enquanto o resto cantava em alto e bom som. No final, batemos palmas e ela nos agradeceu, sem graça. Eu também nunca me sentia a vontade quando as pessoas resolviam cantar parabéns para mim. Todos ainda gritavam “êêÊÊ, Renesmee! Renesmee!”, quando seu olhar se fixou na minha direção, e ela então ficou rígida feito estátua. O silêncio se espalhou, fazendo com que até Edward saísse de seu transe “literário”.

De súbito, ela saiu em disparada, com destino a sei lá onde. Todos a observaram fugir, depois seus olhares pousaram em mim, e em seguida cada um voltou ao que estava fazendo antes, com a frustração evidente nos rostos. Me encolhi na cadeira, sem saber o que pensar. Pior, me torturando com suposições horrendas sobre o que eles poderiam estar pensando... Que mistério escabroso! Passados alguns segundos mais, Edward disse, sem tirar os olhos do livro:

– Ela está te chamando no banheiro, Alice...

A garota deu um muxoxo e o censurou:

– Eu acho que não era pra você dizer isso alto!

Ele deu de ombros, com indiferença. Ela levantou suavemente para se encaminhar até a sobrinha, dando um tapa na nuca de Edward ao passar pela sua poltrona.

– Ai!! – ele protestou, dissimulado.

Bella veio me entregar a bandeja com um sanduíche e suco de maçã, e sua cara era de quem se divertia a valer. Em seguida, foi se sentar no braço da poltrona dele, massageando o local onde havia levado a pancada. Ele se aninhou em seus braços e voltou ao livro. Jasper foi procurar algo de interessante na internet, prevendo que Alice não retornaria tão cedo. Olhei para os lados e me vi rodeado unicamente por casais que trocavam olhares e carícias. Comecei então a entender o dilema de Seth...
Engoli o lanche de uma vez {acho que a minha amiga me confundiu com um passarinho... mas o que valia era a intenção!} e decidi dar uma volta ao redor da casa. Ninguém pareceu me notar enquanto atravessei a sala até o hall...
Do lado de fora, o ar estava fresco e os raios solares até aqueciam em contato com a pele! Um clima verdadeiramente especial, digno da data. Há exatos sete anos, vinha ao mundo a criatura mais maravilhosa que já pisou esta terra, mudando para sempre a minha forma de enxergar as coisas, de agir, de respirar até. Sua chegada sacudiu meu universo, literalmente, e sua existência agora regia a minha. Como as pessoas por aí gostam de dizer, ela mudou meu mundo. Pra melhor, muito melhor.
Mas agora, com aqueles sonhos vindo se antepor a esse meu estado de perfeição absoluta, eu me torturava o tempo todo. Estava me sentindo desanimado, fraco, sujo, humilhado... Indigno de estar na sua presença. No entanto, em todas as vezes que estivemos juntos desde então, era como se não houvesse outro lugar onde eu devesse estar, senão ao seu lado, ouvindo sua voz, tocando sua pele, sentindo seu perfume... Cuidando dela. Era uma contradição perturbadora. Eu sentia o peso do mundo todo retesando meus músculos, como se todos ao redor estivessem me julgando. Pior, me condenando. Eu próprio me condenava, acima de todos, acima de tudo. Eu era vil... atrevido...obsceno... porco!
Estava mergulhado nesse mar de depressão, quando ouvi passos estranhos vindo em minha direção. Tive certeza de que eram duas pessoas, caminhando juntas, em um ritmo rápido e constante. Minha atenção se voltou toda para o leste, e eu fiquei a postos, quase como se antecipasse a vinda de uma fera selvagem. Bem, de certo modo, eu não estava errado. Porém, um pouco tenso demais...
Dois vampiros, um garoto com aparentemente 16 anos e uma mulher igualmente jovem, de peles morenas cor de oliva e bem abastados de ornamentos e maquiagem, aproximaram-se tranquilamente de mim, após surgirem por entre a mata fechada. Seus olhos cor de vinho me encaravam, despreocupados, e eles pareceram de algum modo satisfeitos em me ver. Suas feições não me era estranhas... O garoto falou, com sua foz produzindo um eco:

– Jacob?! É você?! – ele sorriu pra mim – Somos nós, Benjamin e Tia, se lembra?!

Claro... os vampiros egípcios! Os dois mais jovens, pelo menos... Sorri em resposta à lembrança, dando também um aceno cordial de cabeça para eles.

– Sim, como não me lembraria de vocês?! – Se o cheiro não fosse um fator incomodo a nós três, teríamos trocado abraços – Sejam bem vindos! Onde estão os outros dois... ham...

– Amun e Kebi! Eles preferiram ficar, mas mandaram lembranças à todos.

Eu já sabia daquilo, porém as regras de boas maneiras exigiam um certo grau de interesse nesses tipos de situação. Incrível como as coisas mudaram... Jamais pensei que um dia me encontraria recepcionando vampiros com tamanha naturalidade.

– Ah, sim, eu ouvi algum comentário a respeito disso! Bem, é uma pena que eles não puderam se juntar a nós.

– É verdade! – ele concordou, apesar de não parecer de um todo insatisfeito com a decisão de seus companheiros – E onde estão os outros?! Chegamos cedo demais?! – ele olhou em volta, estranhando a falta de movimentação

– De jeito nenhum! Chegaram em uma boa hora, estão todos lá dentro. Vamos fazer uma comemoração mais caseira do que imaginávamos... – coloquei um sorriso amarelo na cara ao mencionar aquele detalhe – Venham, vamos entrar!

Conduzi os dois até as escadas, como se eu mesmo fosse o dono do lugar. Já tinha me acostumado a passar dias e dias na mansão. Ficava mais tempo lá do que na minha própria casa, pra falar a verdade.
Carlisle e Esme vieram para a entrada nos encontrar. Todos se cumprimentaram propriamente, repetindo o ritual de boas vindas. Lá dentro, o restante dos Cullen os recebeu com muita animação. Piadas do tipo “vocês não mudaram nadinha!” eram comuns entre os vampiros, e a descontração contagiou até a mim.
Não demorou muito até que outros convidados começassem a chegar. Os próximos foram os Denali. Tanya, Carmen, seu companheiro Eleazar, Kate e Garrett trouxeram consigo presentes enormes. Emmett perguntou se eles tinham vindo em um caminhão, e todos riram e se abraçaram. Em seguida, Zafrina, Senna e Kachiri, do clã das Amazônas, foram acolhidas pelo ambiente festivo. Eu já havia me esquecido de como aquelas três eram particularmente altas... quase batiam na decoração do teto! Cada clã foi demonstrando uma enorme satisfação com os reencontros, principalmente por ser em uma ocasião feliz, tão diferente da anterior... Todos perguntavam incessantemente por Renesmee, especialmente Zafrina, cuja afeição por Nessie foi mais que evidenciada em todos os emails e presentes que lhe mandou ao longo desses anos. Bella se esquivava com a desculpa de que Alice a estava ajudando a se arrumar, e todos acreditavam cegamente, já conhecendo a fama da vampirinha. Eu, porém, estava bastante preocupado, apesar de seus insistentes pedidos de “paciência”. A atitude de Nessie na hora do café havia sido bastante incomum. Será que estava se sentindo mal?! Vi que Edward revirou os olhos para essa minha linha de raciocínio e, embora confuso, eu relaxei. O que quer que o estivesse levando a agir daquele modo frio comigo não o impediria de nos avisar, caso algo de errado estivesse acontecendo – esse tipo de pensamento estava se tornando bem comum a mim ultimamente, não deixei de notar.
Logo, foi a vez do clã Irlandês fazer sua aparição. Siobhan, Liam e Maggie ficaram bastante satisfeitos por terem conseguido chegar a tempo. A coisa já estava começando a pegar para o meu lado. Como era de se esperar, o cheiro era quase insuportável pra mim àquela altura. Reprimia constantemente o impulso de tossir, com medo de ofender algum dos presentes. Bella e Esme me lançavam olhares de compaixão, enquanto Carlisle me felicitava por meu esforço. Jasper me prometeu que iria direcionar uma tranqüilidade extra ao meu estado de espírito durante toda a permanência dos visitantes, o que me ajudaria a manter o controle. Pude então aparentar um pouco mais de alegria, nem que fosse pelo fato de que a festa estava se encaminhando para ser um grande sucesso.
Logo logo, todos começaram a se entreter com alguma coisa. Os homens cederam ao convite de Carlisle para o tradicional poker; algumas das garotas estavam conversando animadas sobre algum assunto que não pude entender, enquanto outras faziam um tour com Esme pela mansão, apreciando os minuciosos detalhes da decoração que preparamos. Eu permaneci sentado no chão, encostado na parede de vidro e observando a movimentação com um sentimento de missão cumprida. Me afligi, contudo, quando pensei em Billy, Sue e alguns de nossos convidados humanos no meio daquela quantidade de vampiros. Se eu não estava enganado, alguns deles não eram 100% vegetarianos... Bella veio até mim nessa hora, colocando-se de joelhos na minha frente, ficando mais ou menos na mesma altura dos meus olhos.

Continua...           

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