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Fanfic Solstício - Capitulo 2

quarta-feira, 7 de julho de 2010




Capitulo 2 - Mais que espécie de monstro eu era


Aquela foi uma noite turbulenta. Tive uma enxurrada de sonhos e digamos que eles foram pouco ortodoxos... Não me senti muito confortável quando acordei, então notei que havia caído da cama durante o sono. O pior era que parecia que eu nem sequer tinha dormido. Minhas alucinações foram de uma veracidade tão grande e intensa... que me constrangeram severamente quando voltei à consciência. Me perguntei se o ronco fora a única coisa audível a sair pela minha boca durante a madrugada... estremeci com a perspectiva do contrário. Decidi que lavar o rosto seria uma boa idéia, então me levantei de má vontade e caminhei em direção ao banheiro. Todos já estavam acordados.

– Olá, bela adormecida. Cansou de fazer reformas no seu quarto? – ouvi Paul gritar da cozinha. Sua pergunta me paralisou no meio do corredor e eu olhei na direção de lá, voltando alguns passos até ficar à vista.

– hmm?! – quase gemi. Ah não, eu estava certo em me preocupar... – Que reformas?!

– Me diga você. A noite toda você não parou de fazer barulho... Pensei que ia derrubar as paredes! – seu olhar era verdadeiramente confuso enquanto falava. Ótimo. Se fosse sarcástico, eu teria a confirmação de meus temores. Fora uma noite sem palavras, só barulho.

– Sei lá Paul... Você nunca se bateu nas paredes enquanto dormia?! – tentei desviar a atenção de mim pra ele, por precaução

– É, mas teve uma hora que você começou a falar também! – Billy se girou na cadeira de rodas pra entrar no meu campo de visão – Gemer, na verdade! – Seu olhar era desconfiado. Eu estremeci novamente.

Droga, eu me antecipei.

– Quem é “Nessie”, Jacob?! – Rachel estava fritando bacon e não deu pra ver seu rosto, mas sua voz já era maliciosa o suficiente. Droga, o sarcasmo... Eu estava perdido. Voltei a dar respostas evasivas.

– Não é “quem é Nessie”...e sim “o que é Nessie”. Eu só tive um pesadelo bobo com... o monstro do lago Ness – eu era um idiota mesmo. Aquilo não podia ser o melhor que eu era capaz de inventar...

– Se eu não me engano – Billy começou com cinismo – “Nessie” também é o apelido carinhoso que vocês deram a Renesmee, sua queridinha!!

Droga, droga, droga, droga, droga!!! Isso tudo era tão típico deles. Agora Rachel iria me azucrinar até o fim dos tempos... e Paul não perderia a oportunidade de fazer o mesmo.

– Ai-Meu-Deus... Jake está amando?!?!? Que notícia ótima!! – Ela desligou o fogo e se virou por fim para me encarar de braços cruzados, a malícia flamejando em suas feições.

– Caramba, é mais do que uma ótima notícia!! – Paul teve uma reação incomum e se levantou, vindo na minha direção. Pensei milhões de coisas, mas nada me preparou para aquilo. Ele me apertou, numa tentativa sincera e desajeitada de um abraço. Me sacudi em protesto entre seus dois braços, que me esmagavam, e ele então me afastou para poder me olhar nos olhos.

– Ah Jake, eu estou tão feliz por você, maninho!! – e voltou a me esmagar.

“Que ceninha patética é essa?”. Eu não tive escolha, a não ser aceitar o gesto de bom grado pois, aparentemente, o choque geral estava sendo suficiente para, de alguma maneira, tirar o foco do meu showzinho noturno...

– Eu agradeço Paul – me afastei, por fim – mas não é nada disso que vocês estão pensando! Nes... Renesmee estava sim no meu sonho, eu admito. Ela estava sendo atacada pelo monstro do lago Ness! Acho que vocês são capazes de compreender que a semelhança dos nomes pode causar confusão no subconsciente de qualquer um. Os gemidos {que horror} são totalmente compreensíveis nesse caso, e o que estou dizendo é embaraçosamente verídico, quer vocês acreditem ou não!
Billy deu de ombros e rodou a cadeira de volta ao lugar em que estava antes. Paul esboçou um desanimo com minha afirmação e também retornou ao seu banco, desconcertado. Rachel, porém, me lançou um olhar do tipo “não pense que você me engana!”, e eu continuei meu percurso em ritmo acelerado para o banheiro, antes que ela fosse capaz de verbalizar sua réplica à minha mentira bizarra.
Abandonei meu rosto no jato de água que descia da torneira, na esperança de que minhas lembranças daquela noite de alguma maneira também escorressem pelo ralo. Foi inútil... Minha mente nunca havia ultrapassado até aquele ponto antes. Não com ela. Decididamente, não queria mais pensar naquilo, então me enxuguei e saí do banheiro com destino à porta da rua.

– Não vai tomar café, Jacob?! – ouvi Billy gritar pra mim antes de eu atravessar a saída.

Contornei a casa à distância, querendo escapar de ser visto por eles através da janela da cozinha. Ficaria longe de lá até que o assunto tivesse perdido a importância {tradução = muito tempo}. Tirei minha bermuda e a envolvi nas costas de maneira que, depois da transformação, ela ficasse agarrada aos meus pelos, como de costume. Me atirei na mata aberta em seguida.

A natureza era um refrigério para mim. Nada, se comparado à presença de Renesmee, claro! Porém ela tinha um poder curativo e uma essência de liberdade tão atrativa que eu não poderia viver sem ceder ao seu chamado, mesmo que ocasionalmente. Adorava a sensação do solo debaixo das minhas patas, enquanto corria sem rumo por entre as árvores e o cantar dos pássaros. A iluminação baixa que vinha, tímida, atravessando os troncos centenários delineava com delicadeza todas as rochas e pequenos arbustos ao meu redor. Poderia correr daquele jeito por décadas sem me fatigar.
Evitaria as proximidades da propriedade dos Cullen por hora, ainda mais depois das coisas espantosas que ainda borbulhavam em minha cabeça. Imaginar Edward tendo acesso livre a todas aquelas barbaridades causava um efeito muito desconfortável em meu estomago. Mas, principalmente, porque não conseguiria olhar para ela de uma maneira que me fizesse sentir menos culpado. Que droga! Eu estava odiando meu subconsciente por fazer aquilo comigo.

– Arght! Não!! Mas o que... Jacob, volte imediatamente à forma humana!! Eu SUPLICO – Leah estava tendo um vislumbre das imagens em minha mente e manifestou um ataque compreensível de repulsa

– Credo, Jake! O que você anda assistindo na TV ultimamente?! – Seth cravou o punhal em meu peito

– Será que vocês poderiam me oferecer um apoio moral, ao invés de me colocar mais pra baixo ainda?! – eu estava me humilhando profundamente

– Você não precisa de apoio... precisa é de uma ajuda profissional!! – a voz dela era dilacerante

– Estou confuso... essas imagens são um sonho ou são reais?! – obrigada Seth

– Vocês querem acabar comigo mesmo!!

– Eu não comprei esse canal pornô!! TIRA, TIRAAAAA!!

– Muito criativo, Leah... Onde vocês estão? Vamos nos encontrar... Preciso me distrair com urgência e não sinto nenhum prazer em escutar vocês interagindo com as visões distorcidas da minha cabeça.

– Por favor!! – Seth ficou até mais animado do que eu com a idéia.

Nos encontramos poucos minutos depois em uma clareira próxima ao rio, já em nossas formas humanas. Seth veio do norte – devia estar caçando – e Leah veio da mesma direção que eu, então supus que ela estava vindo da reserva também.

– Seth, você não está passando as noites na floresta sozinho de novo, não é?! – perguntei com severidade.

Isso vinha acontecendo desde que Leah sofreu imprinting com um garoto do povoado chamado Zach Ortino, que havia se mudado de volta para La Push no verão passado, após alguns anos estudando economia em Washington. Ele também se transformou em lobisomem ao retornar, se unindo à matilha de Sam. Foi o primeiro caso de imprinting mutuo, e os anciões da reserva estavam muito entusiasmados com a união dos dois. Seu relacionamento era de uma intensidade também incomum e a maioria das pessoas relevava certas extravagâncias cometidas em público por eles, compreendendo que era natural, em se tratando de algo novo para todos.
Seth, no entanto, estava se sentindo desconfortável com sua condição de “solteiro”, algo que já estava se tornando bem raro em nosso meio. Por isso se isolava ocasionalmente, passando dias na floresta. Sue ficava preocupadíssima com esses desaparecimentos e eu me sentia na obrigação de responder pelo bem estar dele, em todos os sentidos. O garoto estava quase se tornando um filho pra mim, o que era até bem engraçado.

– Está sim – Leah se sentia na mesma obrigação, óbvio – Eu não sei mais o que dizer para esse garoto! Ele quer matar a mamãe, só pode!

– Credo Leah, que coisa mais horrível de se dizer... – ele replicou, mas tinha consciência de que estava agindo errado

– É, eu sei! Por isso que eu estou dizendo, pra ver se você cai na real!

– Seth, se isolar não é a melhor alternativa se você deseja algum dia conhecer alguém especial – falei, usando daquele artifício com uma propriedade e astúcia que sempre faziam com que ele concordasse comigo, no final

– Vocês têm razão, eu admito! Mas é que é tão embaraçoso pra mim estar no meio de todos aqueles casais... As indagações das pessoas me causam muito constrangimento as vezes.

Eu odiava vê-lo tão abatido, e não só por sermos membros da mesma matilha. Estávamos todos aprendendo a lidar com as dificuldades uns dos outros, tomando-as como nossas muitas vezes. Leah, claro, tinha mais dificuldade em se expressar com compreensão e delicadeza, mas estava em processo de evolução, principalmente por estar apaixonada.

– Mas não tente mudar de assunto, Jake!! Ainda nos deve um pedido de desculpas pelo bombardeio. Poxa, custava avisar que estava chegando com uma tonelada de pensamentos inconvenientes a tiracolo?!

– Eu vou te mostrar o que é inconveniente, sua loba enxerida – eu disse, dando nela um safanão de leve nas costas. Ela protestou com um palavrão, e eu ri como quem dizia “bem feito”!!

– Mas é sério Jake, o que foi aquilo?! Nem parecia você mesmo!!– Seth estava claramente desconfortável ao insistir no assunto, mas era impelido pela curiosidade.

Eu não estava muito disposto a seguir com aquela conversa, mas... sinceramente, preferia ter com quem falar a respeito, do que guardar o assunto só pra mim {isso era novidade!}. Me sentei com as pernas estendidas na grama, a luz da clareira envolvendo o alto das minhas costas. Eles se sentaram também, de maneira que ficamos de frente uns para os outros. Seus olhos estavam ansiosos.

– Eu, sinceramente, não tenho uma resposta para aquilo – senti minha testa se vincado automaticamente enquanto falava – Foi um sonho que me tomou de assalto durante a noite e não pude resistir ao impulso de... sonhá-lo! Perdi totalmente o domínio do meu subconsciente. Foi verdadeiramente bizarro.

– Eu sei! – Seth sentiu um arrepio na espinha

– Mas também, – mudei o rumo das minhas considerações – foi tão... sei lá...

– Nojento! – Leah não perdeu a deixa e lançou uma alfinetada. Eu olhei pra ela de soslaio, depois conclui:

– Natural!

Os dois se entreolharam, incrédulos. Eu comecei a me preocupar com o tipo de impressão que eles teriam de mim daquele momento em diante...

– Bom... – Seth foi o primeiro a interromper o silêncio constrangedor – de certo modo, você te razão! Ela é a sua escolhida afinal de contas...

– Mas isso não me dá o direito de ser tão invasivo!

– Concordo! – Leah pirraçou outra vez. Ela não ia parar nunca! “Você vai ganhar outro safanão!” eu pensei, mas nem me dei ao trabalho de dar uma réplica

– Não sei ... eu só acho que ela ainda é muito novinha pra ser exposta à essa realidade... quer dizer, eu não quero forçá-la a ser minha! Mas não sei se suportaria vê-la com outra pessoa tão pouco. Estremeço só de pensar, na verdade!

– Quer dizer que você nunca tinha sonhado com nada parecido antes?! – Leah demonstrou espanto – É difícil de acreditar...

– Nunca! – eu fui firme, pois era a verdade – E se você não acredita, pode ir passar uns tempos com o Quil. Eu aposto que ele vai até se ofender se você mencionar algo do tipo!

– Eu acredito em você, Jake! – Seth sempre se solidarizava com todos, independentemente das circunstâncias – Mas é claro que ele nunca a imaginou desse jeito, Leah – seu tom agora era de repreensão para a irmã – Nós próprios já teríamos visto alguma coisa em seus pensamentos.

– É verdade... – ela admitiu de má vontade

– E agora, como vai ser lá na casa dos Cullen? – Seth ficou preocupado de repente – Edward não pode ter acesso a essas lembranças, senão ele te arrebenta!

– Eu não acho que ele vá fazer isso. E, cedo ou tarde, ele vai acabar descobrindo. Mas, por incrível que pareça, o que me dói mais é que ele vai ficar decepcionado comigo...

– Hã?! – os dois exclamaram em uníssono

– Não me entendam errado... Eu não tenho o hábito de viver a vida de acordo com o que os outros pensam de mim! Mas é que, com ele... sei lá, seria mais uma questão de orgulho, sabe?! Ele parece ser tão superior a mim em todas as coisas... seria uma humilhação insuportável. Nós lutamos muito ao longo desses anos para construir uma relação de respeito mútuo. Isso viria como um balde de água fria sobre nossa amizade. E ele colocaria Nessie contra mim! Eu não conseguiria lidar com uma reprovação dela... – eu me torturava. Eles se compadeceram de mim então.

– Ora vamos, Jake, não se mortifique desse jeito! Não vai chegar a lugar nenhum – Leah me surpreendeu com a ternura de sua voz – Tente ver pelo lado positivo!

– Que seria... ?!

– Que seria... – ela não conseguia enxergá-lo, assim como eu, então ficou enrolando com as mãos, desajeitada

– Se vocês não sabem, eu vou dizer então! – Seth parecia o mais velho do grupo – O começo de uma nova fase é uma coisa positiva, a meu ver! Você só precisa de um tempo pra se acostumar...

– Eu acho que não entendi... “Nova fase” do quê? – eu inquiri, confuso

– Sua e de Renesmee, ora!! Algum dia iria acontecer, e você foi um tonto se não se preparou para isso!

Acho que, na cabeça do Seth, as coisas sempre funcionavam de um jeito mais simples. Como alguém se preparava para uma coisa daquelas é que eu não sabia...

– Não creio que ela esteja pronta para essa “nova fase”, Seth! Por um lado, ela é apenas uma criança. E ontem ainda teve o incidente comigo e ela no bosque... – eu freei a língua, me arrependendo imediatamente de ter começado outro assunto embaraçoso. Tarde demais...

– Que incidente no bosque?! – de novo os dois falaram ao mesmo tempo, cada um em um tom diferente. Então, relutante, eu continuei:

– É que ontem, depois daquela hora em que eu falei com vocês, voltei à forma humana e fiquei na floresta, vendo a chuva {tentando parar de chorar, isso sim!} e, depois de algum tempo, ela foi me encontrar e acabou me pegando, digamos... meio desprevenido!

– Credo, que pervertido!! Coitada da menina... – Leah outra vez. Nossa, ela conseguia ser tão infantil às vezes...

– Eu não estava esperando que alguém fosse aparecer, sua tonta! Muito menos ela! – disse, entre dentes

– E você acha que ela... ?!– Seth largou a pergunta no ar, mas eu entendi

– Eu acho que não! Pelo menos, não deve ter visto nada de muito “significativo”!

– Rá! Quanto a isso, não tenho nem dúvidas... – ela bufou, insolente e maldosa

– Será possível que você não consegue não falar idiotice, garota?! Que mente suja! O que aconteceu com aquela sua repentina maturidade de agora a pouco?! – vociferei, já sem paciência. Acho que dei o meu recado, por que ela ficou sem graça e se deitou na grama, olhando para as nuvens

– Mas a atitude dela já estava meio esquisita antes disso – continuei, me dirigindo unicamente a Seth – Faz algum tempo que tenho notado ela mais fria comigo... No bosque, nós nos comunicamos o tempo todo usando a voz. Parecia que ela estava com medo de me tocar. Quando estávamos na sala ontem, antes de eu me desentender com Alice, ela entrou e malmente falou comigo. Quer dizer, não como costumava falar antes, me priorizando com sua atenção... Eu é quem tive que me dirigir a ela primeiro! Eu estou sendo paranóico, não estou?!

– Pode ser... Mas vocês dois têm um relacionamento único, então você deve ter razão quando diz que algo está estranho. Mudado... – Seth, de repente, parecia estar falando em enigmas, como se enxergasse uma coisa muito óbvia em sua frente, que eu não enxergava. Aquilo me deixou confuso outra vez... – Mas não se preocupe. Eu tenho certeza de que não deve ser nada sério... As garotas podem ser bem complicadas às vezes. Talvez seja por isso que eu ainda não encontrei meu par...

– Você só precisa ter paciência e ficar atento! Mas quanto a mim e a Nessie, você pode estar certo... devo estar me preocupando a toa mesmo!

– Finalmente, – Leah voltou a participar da conversa – o que foi que aconteceu entre vocês dois?! Alice e você, eu quero dizer...?

– É mesmo... Eu fiquei bastante preocupado com você! – o interesse de Seth finalmente mudou de rumo

– Não foi nada de mais. Era só eu, sendo... bem... eu! – cocei a testa, com um sorriso amarelo – Nada que o tempo não resolva!

Meu estomago de repente roncou alto e eu me lembrei que ainda não tinha comido nada. Decidi então que iria passar o restante do dia caçando em algum lugar próximo à reserva. Me levantei, decidido a encerrar a sessão de psicanálise por hora.

– Ah Jake, não seja um chato! Vai sair assim, agora que a conversa ia tomar um rumo interessante?! – Leah não tinha conseguido superar totalmente seu ressentimento em relação aos vampiros, nutrindo ainda uma certa esperança de que eu me cansasse de passar tanto tempo com os fedorentos e me sociabilizasse mais com os da minha “espécie”.

– Lamento por estragar o seu divertimento {mentira}, mas eu agora vou cuidar de outras coisas, se vocês não se importam!

Seth se pôs de pé num salto e se aproximou de mim, pondo a mão direita em meu ombro.

– Eu sempre vou me importar com você, Jake!

Sua atitude me comoveu e eu retribuí sua solicitude com um “Obrigado” tímido! Era difícil admitir, mas ele estava se tornando mais maduro do que eu, mesmo sua aparência ainda sendo tão infantil e simples. Tinha que admitir que eu me espelhava nele, de certa maneira!

– Eu vou passar o dia caçando, não vou à casa dos Cullen hoje! Estarei perto, caso precisem de mim. E você – apontei para Seth – trate de voltar para casa com sua irmã, e fique por lá hoje. Sua mãe está com saudades suas.

– Eu sei... eu sei – ele disse, resignado

– Se ele fugir, eu te aviso! – Leah deu uma piscadela para mim, em parceria.

Me despedi deles, então segui de volta pela mata, outra vez como lobo. Não pensei que me sentiria tão aliviado por desabafar aquelas coisas com eles. Mas, pelo visto, pertencer a uma matilha tinha algumas vantagens que eu não conhecia. As lembranças do sonho já estavam quase apagadas da minha mente. Eu respirava mais tranqüilo, embora ainda me sentisse meio estranho. Era como se meu corpo estivesse sendo atraído por uma força que se intensificava a cada segundo, de forma abrasadora. Como se minha alma estivesse sintonizada em uma freqüência nova. Meus músculos estavam mais rígidos e salientes também, e eu me sentia mais forte, mais atento... Um lobo melhor, eu podia dizer! Nada daquilo fazia sentido algum para mim.
Cacei pelos arredores da reserva até o anoitecer, então voltei para casa. Billy estava do lado de fora quando eu cheguei, no pequeno deck, vendo os últimos raios cor de violeta se distanciarem no horizonte. Me transformei de volta e caminhei devagar em sua direção. Ele não apresentava nenhum sinal de raiva. Muito pelo contrário, parecia aliviado em me ver. Devia ter imaginado que eu iria sumir do mapa de novo, como fiz no passado. Me aproximei gentilmente e fiz menção de empurrar sua cadeira para dentro, quando ele segurou meu pulso, seu olhar prendendo o meu.

– Obrigado por voltar, filho!

Eu assenti com a cabeça, então dei continuidade ao meu impulso inicial. Entramos em casa e Paul estava, como de costume, esparramado no sofá, comendo um salgadinho com a cabeça no colo de Rachel. O fato dele agora morar na minha casa em tempo integral já não era mais um suplício como no início. Tinha que aceitá-lo, conforme havia prometido no dia do casamento deles dois, cinco anos atrás. Ao me ver, o marmanjo colocou-se sentado, visivelmente satisfeito.

– Jake, que bom que você não fug...

Billy o fuzilou com os olhos, numa forte repreensão, antes que completasse a frase. Ele se limitou então a me cumprimentar com um aceno de cabeça, e voltou aos braços de Rachel, que nem pareceu se surpreender com meu retorno. Eu empurrei a cadeira até um ponto próximo ao sofá, depois parti em direção ao banheiro para me lavar. Antes que eu fechasse a porta, Rachel gritou da sala, com um entusiasmo carregado de ironia:

– Nessie ligou pra você!

A simples menção do nome fez um calafrio percorrer as extremidades do meu corpo, violentamente. Todos os meus pêlos se arrepiaram e tive uma arritmia cardíaca severa. Tranquei a porta depressa e me sentei no chão, com a cabeça entre os joelhos. A torrente de imagens jorrou novamente e com força total agora. Senti verdadeiramente um ódio de Rachel por me fazer passar por aquilo outra vez. Precisei de alguns minutos pra parar de tremer e me recompor. O que estava acontecendo comigo?! Parecia que eu estava voltando aos meus primeiros dias como lobo! As alterações bruscas de humor, o descontrole físico e mental... Eram, sem dúvida, os mesmos sintomas. Busquei na memória o que havia me ajudado na época, daí me lembrei das longas conversas que tive com Sam Uley e de como me sentia melhor ouvindo suas experiências. Desisti da idéia de tomar banho e fui correndo ao meu quarto. Peguei o celular do chão e disquei com dificuldade o número quase esquecido. Esperei impaciente, um, dois, três toques...

– Alô?! – sua voz rouca me atendeu do outro lado

– Sam?! Sou eu, Jake! – tentei acertar o tom da minha

– Jake?! É você mesmo?! Sua voz está diferente... Está tudo bem?!

– Está, está sim. Quer dizer, mais ou menos... – Eu estava me enrolando muito com as palavras. Em minha mente passavam flashes de várias coisas ao mesmo tempo – É por isso que eu estou telefonando. Precisava te fazer umas perguntas...

– Você quer que eu vá até aí?! – Ele pareceu se preocupar com meu nervosismo. Eu me apressei em dispensar a idéia

– Não, não tem necessidade! É só que eu estou com algumas dúvidas. Algumas coisas estão acontecendo comigo ultimamente...

– Que coisas?!

Eu contei tudo a ele, sem desprezar nenhum detalhe sequer.

Apesar de nossas pequenas diferenças no passado, nossa reconciliação foi quase que automática depois que a paz voltou a imperar. Eu me sentia à vontade contando minhas dificuldades para ele, por mais embaraçosas que fossem. Sam, de certo modo, continuava a ter uma imagem de líder para mim e eu o respeitava muito. Ele ouviu atentamente, sem me interromper em momento algum.

– E então Sam, o que você acha que pode estar acontecendo comigo?!

Ele pareceu considerar algumas hipóteses antes de se pronunciar a respeito.

– Bem Jake... eu, honestamente, não tenho uma opinião muito precisa a respeito dessas coisas que você me contou. Sua realidade é parecida com a de Quil, porém com algumas ressalvas que devem ser levadas em consideração.

– Então você não pode fazer nada pra me ajudar?! É isso?!

– Eu não creio que seja nada grave! Não tenho dúvidas de que você é forte o suficiente para superar seus limites, assim como fez no passado. Meu conselho é que você se tranqüilize amigo! E em relação aos seus receios quanto a Renesmee estar correndo algum tipo de risco... Eu não acredito muito nessa hipótese. Ela está bem protegida junto à família dela, junto a você. Ninguém vai ser pego de guarda baixa outra vez.

Não tive outra alternativa, a não ser aceitar seu conselho. Eu confiava nele, por isso sabia que se eu, ou Nessie, ou alguém, estivesse correndo algum perigo real, ele seria um dos primeiros a tomar alguma iniciativa. Agradeci e desliguei o telefone, meus nervos já estavam em equilíbrio novamente.

No mesmo segundo, o aparelho vibrou em minha mão, e eu chequei o visor. Nessie!

Mais uma onda de descontrole ameaçou tomar o meu corpo novamente, porém eu coloquei imediatamente em prática a instrução de Sam e me forcei a manter os eixos. A coitadinha teve que esperar umas sete chamadas até que eu finalmente atendesse, me esforçando ao máximo para parecer normal.

– Alô?! – eu guinchei. Que fracasso...

A voz do outro lado não foi a esperada. Para minha surpresa, Bella era quem estava na linha.

– Você está doente?! O que aconteceu, você não veio hoje...

Meu choque foi tamanho que eu permaneci mudo por uns segundos.

– Jake?! Você está aí?!

– Estou, estou sim! – a voz pouco a pouco retornando à normalidade – Oi, Bella! Não, eu não estou doente. Eu só precisava de um tempo... Muita coisa pra pensar...

– Você ainda está chateado?! – sua voz ficou triste ao fazer a pergunta

– NÃO!! Não, de jeito nenhum! Aliás, que direito eu tenho de estar chateado! Eu fui um cretino, como Rosalie disse!

– Não foi não! Você exagerou um pouco, foi só isso, mas... Ei, você ainda é humano, não é?! – Ela pareceu se animar

– É, tem razão! – eu ri, embora não me sentisse muito digno da qualificação. Eu era um monstro nojento, isso sim

– Nessie me contou que foi te procurar no fim do dia. Ela nos disse que você não estava chateado... Mas, como você não apareceu, ela passou o dia todo desanimada. Ontem a noite a pobrezinha já nem tinha conseguido dormir direito, de ansiedade!

Eu poderia pensar que Bella estava dizendo aquilo só para me martirizar. Mas ela não tinha como saber do que estava se passando em minha cabeça. Pelo que eu sabia, seu dom era outro.

– Eu sinto muito por isso. Onde ela está agora?!

– Está lá dentro, lendo com Edward perto da lareira. Passamos o dia no chalé hoje. Você quer falar com ela?!

O desespero deu um peteleco no meu coração.

– Não, está tudo bem. Eu vou escrever uma mensagem pra ela... Não precisa incomodá-la.

– Tudo bem então! – minha amiga pareceu confusa – Tem certeza de que está bem?! Não está me escondendo nada?!

“Estou!”...pensei.

– Não, é claro que não estou. Estou ótimo.
– O-k! – percebi que ela resolveu não insistir – Então até amanhã! Você virá, não é?! Nessie está finalmente se divertindo com os preparativos da nova festa dela, e vai adorar te ver! Afinal, ela deve isso a você!
– Te dou a minha palavra, e eu não vou faltar com ela de novo. Eu juro!
– Ótimo! Boa noite de sono pra você!
– Boa noite de leitura pra você!

Ela riu e nós desligamos juntos. Eu havia parado de tremer completamente. Já estava normal outra vez.
Me joguei na cama e fiquei encarando o nada por um tempo. Era cedo ainda, mas eu estava bastante cansado. Respondi que “não” quando Billy bateu na porta, perguntando se eu iria jantar. Estava bem alimentado da caça e demoraria algum tempo até sentir fome outra vez. Minha mente vagava, enquanto meus olhos se detinham nas manchas de umidade no teto do quarto. Digitei no celular os comandos para escrever uma nova mensagem, mas não tinha a menor noção do que escrever. Nunca havia mandado uma mensagem para ela antes e meu leque de idéias estava fechado. Resolvi começar com algo simples:

“Minha querida Nessie!”

Apertei a tecla para apagar. Que coisa mais sem graça e mecânica.

“Nessie,”

Pronto, a primeira linha estava ótima. Agora só faltava o principal. Caramba, isso era tão ridículo...

“ espero, sinceramente que você me perdoe por ter faltado com minha promessa! ”

Estava indo bem...

“ Meu erro não irá se repetir. Amanhã, sem falta, estarei aí contigo, minha pequena! Bons sonhos! “

Agora, a conclusão:

“ Seu Jake! “

Apaguei aquilo sem vacilar. Fiz outra tentativa:

“ Jake! “

Perfeito. Reli a mensagem, me certificando de que o teor da mesma fosse inofensivo. Abri o menu opções. Esperei um pouco... Voltei à mensagem e apaguei o final novamente.

“ Eu te Amo! “

...

Ai-Meu-Deus, onde é que eu estava com a cabeça?!?!?!? Ainda não estava pronto para dizer aquilo novamente, com dignidade. Reescrevi “Jake”, e enfim, solicitei enviar. Pronto, estava feito. Fechei os olhos e me concentrei na lembrança de seu rostinho angelical, imaginando sua reação de contentamento ao receber a mensagem. Peguei no sono pouco tempo depois.

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